terça-feira, 4 de março de 2014

Noiva De Vermelho

Tu és mais, eu
consegui ser
esquecimento.

Ela casou-se de vermelho, houve sinceridade na cor, com a naturalidade de uma segunda vez,
Desta, quem sabe, mesmo do admirador de hóquei no gelo, a primeira filha também de
Vermelho, mas inocente, da idade da que poderia ser minha, de vermelho como os lábios
Da mãe naquela manhã fria de Primavera cinzenta, depois de um café no restaurante
Da bomba de gasolina, a empregada a perguntar-me se queria mais alguma coisa, não obrigado,
Só estou a fazer horas para ir dar uma foda encomendada, numa manhã húmida, as florestas
Pântanos acesos, um dia perfeito para, trazes os preservativos e eu a manta, se estiver Sol,
Seco, fodemos na floresta, tenho mesmo que te foder, dizia vestida de branco, dizia ao Sol
À beira do lago Saimaa enquanto emborcávamos uma cerveja e falávamos de pouco e nada,
Além da necessidade de termos que foder, como se fosse algo que se tivesse que comer
Por estar quase a chegar ao fim o prazo de validade, ainda trazia o cheiro a Paris entranhado
Nos poros, talvez fosse disso, tenho mesmo que te foder, temos que combinar, dizia com
O noivo excitadíssimo com o mundial de hóquei no gelo, não me lembro em que país,
Viva o amor e os vestidos de noiva vermelhos com filhas duvidosas com os olhos da cor de
Outras possibilidades nascidas em pântanos e contas de cabeça apressadas pelo medo de,
A dar quase certo, quatro, cinco dias, como é possível, foda-se, será, furaria ela a negação
De além futuro, mas não, nunca o contrário, nem uma semana e já estava a receber
Ejaculações do noivo, ainda devia cheirar a sexo e latex no carro dele, cheirar a pressa, a dela,
Deixa-me provar-te, não, quero só que me penetres, entesa-me com a sumo a escorrer-me
Já pelas virilhas, salta-me em cima e parece um cavalo desesperado pela meta,
Sou apertada não sou, sentes como estou molhada, nem a paisagem se consegue apreciar
Com tanta pressa, a cerveja, depois de horas na floresta, escondido dos olhos do auxílio depois
Do pagamento do karma em forma de lama, já metabolizada, o útero já esquecido do latex
Dentro do carro do noivo, não quero preliminares, quero que me entres já, baixando as cuecas
Juntamente com as calças, e eu um excelente linguístico, apreciador de humores secretos,
Montou-me desesperada por um vestido de noiva vermelho, imagino o dia feliz, com Sol,
Como o que acabou por vir à tarde, depois de me ter vindo para um saco vazio, ou não sei,
Já com a pequena capaz de levar as alianças, as fotos no anoitecer tardio de Verão, daqueles
Longos sem chegarem verdadeiramente ao limite da escuridão, será que ela sabe, não interessa,
Está tudo atrás, tudo pela janela fora, ficou tudo dentro, seja no interior estéril de um preservativo
Integro, seja no útero infiel com um sorriso pálido de ninfomaníaca, tudo o que é real e
Sincero é o dia de vermelho, a felicidade mostrada no momento e na cabeça dele,
Nem um sinal, só eu e ela a visão dos seus cornos, quando ele o inocente, e o que é
Um momento, uma ideia, não estamos para abdicar, cumprir e sacrificar o desejo
E já se sabe que o desejo sabe sempre melhor quando vermelho, vestido de vermelho,
De vestido vermelho, não com as calças de equitação, mesmo, calças de equitação,
Umas cervejas e um pacote de bolinhos típicos, depois de muito tempo na floresta
Pantanosa, com os tomates vazios, com as calças novas e a camisola que a mãe
Tinha enviado para o aniversário, não um vestido vermelho, o sangue do mês,
Impossível, será, nunca o saberei agora, tudo camuflado por uma família feliz
E pela minha Psicose de Karsakov, ou não, sempre tomei as minhas vitaminas
Do complexo B, não é Buk, ao ver as fotos do casamento penso, será que ainda é capaz
Daquela manhã, quando fecha os olhos num dia de vontade ou numa noite de sonhos
E remorsos ou saudades, provavelmente só os meus dedos são capazes de recordar o que
A minha vida tocou nas vidas dos outros.

13-02-2014

Torre de Dona Chama


João Bosco da Silva