segunda-feira, 9 de junho de 2014

Americana 1

Sabes, a planta está a secar,
Põe-se no lugar do negrilho,
Dizem que estão todos para acabar,
Todos os homens, restam os
Que conseguem conservar o poder
E a vontade de submeter
Ao nojo da sua presença,
Os gatos já nem pó são,
Até a terra se esquece dos ossos.
Pediu-me que lhe ejaculasse
Na boca e depois riu-se da
Possibilidade de ir parar ao inferno.




Americana 2

O pó é tão quente que é quase
Dourado, faz falta chuva, as aldeias na
Caixa-aberta de língua à cão, cheios de
Entusiasmo e vontade de mergulhar,
Seja no que for, enfiando-nos
Nos buracos entre as pedras
Dos muros da imaginação,
Enquanto os rios correm,
Sem pressas de ninguém.
Lambem-me todo o comprimento
Do tesão de adolescente com
Uma vontade inesperada
Para quem humedece poucos púbicos.




Americana 3

No café de uma aldeia, peço uma cerveja
E pergunto onde fica o cemitério novo,
Alguém me diz que devo estar enganado,
Que não é a aldeia que estou a pensar,
Os caçadores atiraram na placa com o nome
À entrada e não se tem memória,
Aqui só esvaziamos copos e corpos,
Eu disse-lhe que estava com sede
De novidade, com um toque
Familiar de estranhos,
Ouço que falam da mulher
De quem não está.
A filha, apesar da canícula,
Abre as nádegas peludas do filho
Do patrão e enterra-lhe a língua
No olho suado.




Americana 4

Custava sempre a adormecer,
Havia urgências e fomes
Inexplicáveis, os sonhos acordavam-se
Em sonhos,
Da janela aberta ouviam-se
Os cães a ladrar e o último
Candeeiro da rua, ao lado do beijo
Roubado ao hálito adolescente
A cebola e a última inocência,
A amizade fica a latejar
Como o rumor do carro solitário
Que corta a estrada vazia.
Sem reparar que lhe manchei
O vestido com esperma, agradece-me
E cada um vai para sua casa
Dormir com as mãos sujas.




Americana 5

Deixou secar o livro na corda da roupa,
Naquela casa velha do Verão,
Se a amizade também fosse
Possível livrar da irreversibilidade,
Mas o carro não contou nada
A ninguém, os sentidos esqueceram-se,
A memória tem mais que fazer,
Mesmo assim nunca perdoa,
O pó nunca deixa de cair,
A gente morrerá sempre e
É sempre uma pena, falar mal é
Dos vivos, que ainda sonham
E são traídos por
Quem não merecem.
Depois de lhe impor o cu,
Suplica-lhe, aos secos tomates,
Que se venha na sua boca.




Americana 6

Ando a precisar de pecar,
A vida não merece morte limpa,
No estrangeiro sou mais bonito,
Há olhos mais claros
E interesses menos gananciosos,
Não se cansam tanto com
O peso das aparências e
A diluição das mentiras
Em ilusões e presentes
Ridículos para encher o saco
Que a culpa faz crescer.
Trocou uma volta no carro
Por um broche com a mesma
Boca que recebe hóstias
E diz amo-te a cornos.






“Elephant Gun”

Elefantes e sonhos que
Vamos matando um a um,
A vida,
Esmagando-nos um pouco
Mais com menos
De nós.

Os duros passos
Nem sempre
Os mais pesados,
Todos apagados
Do pó que é
A memória.

Escorrega sem
Medo, as asas
Caem naturalmente.

07.06.2014

Turku

João Bosco da Silva