quarta-feira, 11 de junho de 2014

Monólogo Entre Bêbados

Caro mestre, ando há anos a tentar vender barato a minha confusão,
Ninguém se interessa nestes dias, todos estão certos do que os leva à felicidade
E continuam a comprar barato guias para finais felizes, em caixões de pinho
E muitas flores, eu por este lado, continuo a tentar distinguir entre uma
Indian Pale Ale e uma Californian Pale Ale, não é fácil depois de um aperitivo
Difícil sem gengibre para  limpar o palato, seja como for, nada vale a pena,
As cidades têm demasiada gente vazia e uma cabana numa aldeia quase deserta
Leva-nos a uma loucura seca e quase nos afogamos nas multidões em nós mesmos,
Como em Big Sur, lembras-te, claro que não, o papel não lembra, apenas relembra
Nos olhos que ainda se inflamam depois de muitos cigarros, todos procuram
A morte até ela bater à porta, aí todos se cagam e era só a brincar, alguém devia
Escrever isto numa casa de banho de um bar qualquer, é nestas horas que somos
Mais lúcidos, na loucura de uma solidão entre felizes, como é possível, depois de tanto
Horror ao longo da história da humanidade, poder-se dançar perto da felicidade,
Nem nas pale ale se encontra um alívio, o pior da vida é a tolerância que se ganha
Para as fugas, cada vez menos se consegue respirar num momento de liberdade,
E a vida continua, paralelo atrás de paralelo, impedindo pegadas ou levantamento
De poeiras desnecessárias já que a madrugada apaga tudo das noites que fomos,
Por isso te digo, já ninguém quer saber da confusão dos outros, mesmo que, se calhar
Nem me consigo vir, não interessa, querem, ponto final, tudo o resto é um esquecimento
Fácil a caminho da felicidade que no fim de contas, não passa de um caixão barato
Depois de uns dias a plantar miséria numa cama de hospital, a cagar sangue,
A impingir pena a todos os que visitam com ar de enjoados, mas agora sobre ti,
Diz-me, como é ser feliz, por aí, onde não se está?

Turku

11.06.2014


João Bosco da Silva