sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Bonecas Em Segunda Mão

Aos montes, umas completamente nuas, com as nádegas bem firmes a brilhar
Sob a luz artificial, outras com uma bota só, algumas quase vestidas, nenhuma
Com roupa interior, amontoadas umas em cima das outras como se numa vala comum,
Ridiculamente baratas, a mais pequenina dez cêntimos, ainda mentem o sorriso
Que lhe desenharam há anos, em tempos foram o brinquedo favorito de alguém,
Em tempos tinham uma almofada só para elas, algumas tiveram-na durante
Anos, outros provavelmente menos de uma semana, até que veio outra nova
E lhes roubou o lugar e o amor, agora esquecidas à espera de outras mãos,
Ou o lixo, as donas de algumas também já devem ter sido as bonecas favoritas
De alguém, alguém que as despiu e também as deixou assim, com as nádegas
A brilhar, a diferença é que a firmeza destas se perde e também perdem
A facilidade das almofadas alheias, há as que continuam a ser favoritas,
Mas não são brinquedos de ninguém, são amadas, são mães, ninguém as esquece,
Não têm preço, mas não deixa de haver as que esperam quem as leve
Para casa, por um preço simbólico, resignadas, usadas, em tempos bonecas com quem
Todos queriam brincar, cobiçadas, sonhos quebrados que se diluíram na carne.

12.09.2014

Turku


João Bosco da Silva