quinta-feira, 19 de março de 2015

Sapataria

RIP

Vou deixar a pastelaria em paz, a estas horas já não deve ter um bolo sequer,
Nem o café, não suportaria filosofias de balcão, para isso leio mais um aborrecimento,
Convenço-me que não faço ideia do que realmente ando a fazer,
Contudo, não vou deixar em paz a sapataria, nunca deixarei, aquele
Bálsamo das canículas de Agosto, recheada de sonhos, um fato-treino
Novo no Natal, com sorte, ou então ia-se cantar os reis para a camisola
Igual à do amigo, na sapataria, sonhava-se lá dentro, olhava-se mais
Para os próprios pés, faz tanta falta isso, aborrecia-se menos gente,
Mas neste país de vampiros, parasitas de missa ao Domingo, onde o Sol
Parece eterno e é de pouca dura, os fungos dos pés escondem-se
Com o dívidas e quem paga é quem acredita, é quem confia,
Porque quem acredita é parvo, quem confia é burro, louvam-se
Os filhos da puta, promovem-se os ladrões, admiram-se os aldrabões,
Prefiro sentar-me, descalçar as sapatilhas que já apertam, revelar
O hálux longe da gota e da meia e calçar os passos do fim do Verão,
Haverá sempre arraial, não para os que o merecem, mas a vida é isto,
Uma visita à sapataria com ar condicionado, numa tarde infernal
De Agosto, um sorriso que recebe, bolsos vazios e vontade de pés
Por tudo adentro, a vida isto, um passo que ficará sempre por dar.

19.03.2015

Turku


João Bosco da Silva

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