terça-feira, 25 de agosto de 2015

Foste Agosto

para Rui Pires Cabral,


Foste Agosto, passei os teus Novembros debaixo de uma figueira, não longe da tua aldeia,
Visitei as cidades onde nunca estive, e aquelas em que tu não estiveste, revisitei as outras,
Somos estrangeiros para esta gente, só os canteiros nos vêem além da camada
Do pó estrangeiro, durante o agonizar lento da canícula a tua morada foi refúgio,
Por entre a incessante pestilência dos programas da tarde, foste o reencontro
Com  as fotografias onde reconheço sempre alguém nos teus, foste os morangos
Que não consegui comer naquela manhã de Domingo já depois da procissão da tarde
Na ressaca da romaria, nas tuas páginas reli as cartas que depois de outros verões
Trocava com quem não ficava na vila, cresci de partidas, agora sou eu quem nunca permanece,
Fizeste-me procurar no espelho algo além das marcas que me afastam dos verões
Em que dava tempo ao cabelo de ficar mais claro, ninguém sentiu o cheiro,
Mas deitado na rede, fumei contigo um charro e não senti medo, o coração
Manteve-se ao ritmo do balançar lento, separam-nos umas décadas,
Mas como faziam com a arte sacra, visto os teus poemas com a minha época perdida,
Também já não digo que tenho a vida inteira pela frente, só o horizonte que me viu passar,
A figueira, a tua morada e mais uns quantos poemas que espero que também sejam a morada
Do Agosto de alguém que se encontra cada vez mais fora do lugar, perdido de si para sempre.

25.08.2015

Turku


João Bosco da Silva

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