quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Fumo E Espelhos

Noutro tempo nem o caralho da braguilha conseguirias abrir, agora, os dedos voam,
A língua parece um puto dum boxista a mandar ritmo no saco até trocar os olhos
Dum mortal quase lá, agora desenterras o trigo podre, ainda antes da segada,
O tractor a passar mesmo antes de ela enfiar as mamas na t-shirt, mas o dedo,
Mais lento, ainda lá dentro a olhar para o castanheiro a fingir que, este ano
Muita castanha, Nietzsche estaria orgulhoso, com o fusíveis queimados,
A mim não me fodem mais estando ocupadas com futuros pais de filhos
Que amigos ou colegas e as escadas rolantes a subirem, a levarem sapos na boca
E a descerem de volta ao autocarro de carreira, de volta às invictas onde
Se lhe encheu o depósito e anos mais tarde a filha não é tua, como se,
Querias que fosse, não, não queria, mas em vez de num olho, nos dois
E rires-te depois com o azedo triste da recaptação de serotonina a rebentar-te
Nas horas do descanso de dobrar camisolas e calças e ajoelhares-te
Para levantares caixas de roupa, baixares a roupa para levares com a carne,
Remédio para o aborrecimento das cidades de província, nunca mais me pagaste
Um pastel de nata com um café, nem ao menos um iogurte no frigorífico
Quando a boca seca dos teus lábios alcalinos desembrulhados pelo álbum fora
Dum cantor que já nem te lembras, mas lembras-te que rãs e o aniversário
Do teu primo nos motores de rega que te frisavam o cabelo, não é,
E as rãs a coaxarem com ela a dizer que sangrava na manta do piquenique
De fome, mas depois com as calças brancas na invicta achou que demorava,
Quando regressou de dar duas chapas de água nas beiças no bidé avariado,
Meu deus, quanta pizza já comi nesta vida, tenho compensado com whisky decente
As fodas à confiança a ver se me desinfectam a alma e a frigideira com a omelete
Esquecida entre foda e fumo quando quase a vir-me, foda-se que morremos aqui
Uma morte nada pequena, mas nada, fumo, muito fumo nesta vida, mais nada,
E guardo estes pedaços de fotografias numa caixa de whisky numa ilusão de imortalidade.

29.09.2015

Turku


João Bosco da Silva

Sem comentários:

Enviar um comentário