quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Janelas Fechadas

Parece que ainda sinto as janelas fechadas daqueles tempos frios, antes
Das danças na chuva e dos cigarros molhados no chuveiro, das manhãs
Exaustas entre desconhecidos desesperados por um pouco mais de luz
Antes de irem dormir em camas frias de abandono e traição,
Parece que ainda ouço o bater ritmado dos vizinhos até aos passos
E as descargas na casa de banho, enquanto lia páginas e páginas
De poesia que apagava com os olhos, porque dentro um salto das janelas
Fechadas, a cada passo nas ruas uma dentada do tamanho da vida,
Parece que ainda sinto a textura amarelecida daquelas páginas
Que cobria de passado e de resignação, dos sonhos inúteis que trouxe
Emprestados de quem não me reconhece mais, azedos como os últimos
Raios de sol já frios do fim dos curtos dias, nas unhas o cheiro de todos
Os pecados misturado com o tédio dos copos vazios da noite anterior,
Parece que ainda sinto as janelas fechadas neste quarto sem janelas,
Onde me alimento do que foi digerido vezes sem conta,
Porque às vezes morre-se tão antes de se morrer, dura-se, ou pouco mais,
Com o pão que os fantasmas trazem por piedade ao cemitério de carne.

22.09.2015

Turku


João Bosco da Silva

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