quinta-feira, 8 de outubro de 2015

os poetas negros

os poetas negros
jovens
vêm à minha porta –
“és o Bukowski?”
“sim. entra.”

eles sentam-se e olham em volta do
quarto destruído
e para
mim.

entregam-me seu poemas.
leio-
-os.

“não,” digo eu e entrego-os de
volta.

“não gostas
deles?”

“não.”

“’roi Jones veio ver-nos ao nosso
atelier . . . “

“detesto,” disse,
“ateliers.”

“ . . . Leroi Jones, Ray Bradbury, muitos gajos
grandes . . . eles disseram que isto era
bom . . . “

“ é má poesia, meu. estão a beijar-te o
cu.”

“ há um grande escritor de cinema também. Ele teve a
ideia: Watts Writers’ Atelier.”

“ oh meu deus, não percebes? eles estão a acariciar-vos os
cus! devíeis ter incendiado a cidade
toda! estou farto!”

“tu não compreendes
os poemas . . . “

“percebo sim, rimam, cheios de
vulgaridades. escreves má
poesia.”

“olha cabrão, já estive ao rádio, fui publicado no L.A.
Times!”

“oh?”

“bem, já fizeste
isso?”

“não.”

“o.k., cabrão, ainda não viste tudo o que posso
fazer!”

deduzo que não. e é inútil dizer-te que não tenho nada contra os
negros
porque aí
de alguma forma
é quando o tema se torna

doentio.

Charles Bukowski, in Mockingbird Wish Me Luck (Blacksparrowpress, 1972)

Tradução: João Bosco da Silva

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