sexta-feira, 8 de maio de 2015


Air Strip

Já ninguém me espera com toalhas frescas e um refresco depois de quilómetros de pó
Dentro da virgindade próxima, ninguém me respeita o silêncio da caneta a sujar o papel
Com pecados que fermentaram em versos, nem uma aranha desconhecida a tornar
O papel higiénico um luxo necessário embalado por um milhão de diamantes e
Elefantes curiosos inocentes do medo a que a escuridão obriga, no bolso do casaco
Um postal em branco com uma morada, mas como dizer a um amigo que nos conheceu
O brilho da loucura nos olhos, que a terra já não incomoda mais e que o nome estará
Enquanto ele quiser nas suas saudades, se tanto, ele tão orgulhoso do meu requerimento
Para ser poeta, quando tinha dezasseis anos era sem ter pedido reconhecimento de ninguém,
Lé terei que depilar o cu e perder o nojo na língua, admiro a indiferença das hienas e dos leões
Saciados, tenho mais medo dos hipopótamos, sempre enfiados com os cornos na água,
Sim cornos, entre amigos, todos territoriais, mas é o medo das manchas de um leopardo
Que se esconde antes de focarem os canhões, sem desculpas, que está frio
E não estava preparado, eu atravesso pedantes em cima de um tractor com quilos de merda
Fundida pronta a sair-me dos poros, temos que aguentar a própria vida, mais nada,
Cada um que engula os seus dias como quiser, que trate da digestão como dos amigos
Se quiser, o pó não pára de se fazer quilos nos quilómetros e a toalha seca, áspera, ao lado
De um copo de água-ardente numa manhã de ressaca de vinho tinto em Agosto,
Longe das andorinhas em Fevereiro, antes da despedida da lareira solitária,
Das pinhas que nunca se queimaram, das noites de ausência e cemitérios cada vez mais apertados.

Gdansk

04.05.2015


João Bosco da Silva