quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Síndrome de Wernicke

Sigo-te depois das aulas, ou das obrigações do dia, ou lá o que era,
Atravessámos um túnel como aqueles em miniatura que se faziam na areia
Da praia, aparecemos do outro lado da montanha, havia nevoeiro e eu seguia-te,
Na berma dois miúdos tocavam-se, tu deste-me a mão e eu comecei a tocar-te
Também, sorriste, aceitaste, levaste-me até casa, à entrada no portão dizes-me
Que o homem que regava as couves era teu pai cego, regava-as nu,
Eu disse que se calhar era melhor não, ela disse anda e olá ao pai,
A casa era como as casas típicas da minha terra, de pedra, com uma escada para uma varanda
De entrada, debruçada na montanha, coberta de nevoeiro, vinha e fetos,
Aquilo eram as minhas terras, a minha infância, deixo-te entrar e fico
A respirar aquilo tudo, nunca haverá suficiente verde nos olhos,
Quem te terá posto neste lugar, a ti e ao teu pai cego, tenho tomado
As vitaminas b, não será disso, chamas-me e entro no ranger de madeira do soalho,
Beijas-me e arrancas a roupa apressadamente, provo-te as aréolas rosadas,
A tua pele pálida, deixas-me as calças que apertadas e risinhos por ficarem
Presas nas ancas, lá se arrancam e tu a tremer, os teus lábios da cor das aréolas,
Tu transparente como a tua vontade, ou um espelho da minha,
Tanta que não sei que te fazer, eu de calções no fundo dos joelhos,
Mergulho em ti e levo-te aos lábios o teu sabor, procuro-me e entro
Em ti quando vejo passar na janela o teu pai e mais dois homens,
Continua ele não vê, e eu a pensar nos cheiros a gritar naquela casa,
Não vem só e saio, encosto-me a um canto e vejo-te a ti, a recebê-los, nua,
O teu pai não dá por nada, os outros parecem imitá-lo, é o meu tio e o meu
Primo, e eu encolhido no canto, com as nádegas nuas encostadas à parede fria,
Acabo de puxar os calções para cima, tu deitas-te num colchão que estava encostado
Na parede enquanto eles falam, nua, de barriga, finges dormir, e o teu primo
Curioso, deixa a conversa dos homens e começa a acariciar-te as belas nádegas,
Como as primeiras nádegas, vejo que sorris de olhos fechados, então ele
Penetra-te com um dedo, sinto o som de pregas húmidas no ar, mordes o lábio inferior,
Abres os olhos e sorris-me, saio e engulo o nevoeiro na varanda como se tivesse estado
Em longa apneia, desço as escadas para o vazio, e não, não acordo.

07.10.2015

Turku


João Bosco da Silva