quinta-feira, 3 de março de 2016

Luzes Que Se Apagam Enquanto Billie Holiday Canta

Da janela do bar vejo as luzes acesas dos prédios do outro lado da estrada, os carros passam,
Poucos a estas horas de Domingo de madrugada, a neve nem aquece nem arrefece,
Espera o Sol, alguém morto canta e ainda se sente vida naquelas palavras definitivas,
A máquina de escrever enferruja em toda a sua beleza obsoleta, o relógio de corda
Luta contra o esquecimento inevitável, salta cada vez mais segundos, no fim da rua,
Uma noite chovia nos meus dedos húmidos e quentes e à janela de um prédio,
Alguém fumava um cigarro e assistia, encostados à árvore, apetecia-me levá-la
Ao prédio em construção e fodê-la sobre uns plásticos e umas ripas, agora, no prédio
Terminado, luz acesa e sonolência, mais um dia fotocopiado, nada acrescentado a não
Ser a proximidade ao que foi acrescentado, eu longe, de tudo, entre um encalhado
E um naufrago, acendo as luzes no quarto impossível, vou com uma estrela que passa,
Terei sido naqueles lábios, para que se morre tantas vezes em tanta gente,
Antes da música acabar, antes de se apagarem as luzes, em frente apagam-nas,
Já acabaram de foder, não querem esperar pela consagração de mais um abençoado,
Levanto-me e peço uma última cerveja, a caneta jura estar no fim, esta noite espero não sonhar.

“Y POR FAVOR destruye este papel
la poesia te sigue los pasos
a mi también
a todos nosotros”
Nicanor Parra

28-02-2016

Turku


João Bosco da Silva

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