sexta-feira, 10 de junho de 2016

Beijos E Multiversos

Se te tivesse beijado naquele jantar em que choraste depois
De uns copos de vinho branco, eu com uma garrafa de cerveja
A noite toda, quem era eu, não sei, se calhar eu hoje
Um desconhecido familiar sentado no sofá com a camisola
De um clube a acender inimizades com velhos amigos de cores diferentes,
Um carro na garagem que toda a gente vê e um buraco na carteira
Que eu não queria ver nem sentir, um par de garotos mais pesados
Que mil malas e todos os países que queria ver resumidos a
Uma lua-de-mel no Brasil ou nas ilhas de uma ex-colónia,
Provavelmente mais gordo, com as costas ainda mais encurvadas
Pelas palmadas da amizade, umas quantas putas no orçamento,
Uma amante no trabalho em sopro apressado no parque de estacionamento
Antes de regressar a casa para o conchego do cheiro a refogado,
Um cinema, ao menos, por semana com os garotos e o teu rubor
Nas bochechas ao passarmos por um colega teu que pensas
Que eu não vi a apertar os cordões com os olhos,
Tudo engolido com as pipocas e duas sonadas interrompidas
Pela urina do mais novo e as luzes do intervalo,
Mas que sabia eu de roubar beijos, eu que passava pelas montras
Da fome com os bolsos cheios de vontade.

Turku

06.06.2016


João Bosco da Silva

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