terça-feira, 23 de agosto de 2016

Half Life

Acordo e passaram quinze anos,
Ninguém diz que me espera na pizzaria para tomar um tango,
Parece-me que nasceu mais gente do que os que morreram
E no entanto menos pratos na mesa nos dias de festa
E mais casas abandonadas nos bairros antigos,
Acordo e só o Sol e as moscas me parecem iguais,
O ar cada vez mais pesado e o horizonte
Cada vez mais fino, ninguém me diz,
Deixa lá isso e anda comer,
Deixa lá isso e vem ter comigo atrás da junta,
Deixa lá isso e vai viver a vida ainda a meia distância desta
E o Verão tinha o tamanho proporcional ao futuro,
Hoje que se celebra a sua chegada com tom de despedida,
Acordo num sobressalto, será que
Alguém me mandou aquele tão esperado toque,
Terei puxado o autoclismo,
Haverá manchas nos lençóis,
Será que a neta da vizinha me viu,
Mas só os buracos nos vidros das janelas
Espreitam cheios de ecos de olhares,
Acenando num abandono de cortina
Em reconhecimento à nossa passagem fantasmagórica de canícula,
A que horas passará aqui o melhor amigo,
Queria mostrar-lhe até onde cheguei neste desperdício de vida.

Torre de Dona Chama

12.08.2016


João Bosco da Silva

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