quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Ao Zé Mário

Estás aqui comigo, topas, se te conto que quase tropecei num Picasso
Quando me passou a tua morte nos olhos e o quadro a encolher,
A tornar-se insignificante, num lixo adiado, e no lugar do quadro
Uma Coca-Cola que não se esquece, num Verão quente da adolescência,
Depois das aulas de computador, em Mirandela numa ruela
Enquanto se fazia tempo para apanhar a carreira podre
De regresso à terra, através da canícula e muitas curvas
Num autocarro de portas abertas, eu com sede
E nos bolsos o dinheiro contadinho para o bilhete,
Andas por aqui sozinho meu filho, anda beber um copo comigo,
E aquela Coca-Cola preciosa, uma obra de arte num lugar especial
Do meu museu interior, que levarei comigo, quando for aí ter,
Esquece todas as falhas, todos os rascunhos que acabaram em erro,
Aquela Coca-Cola, naquela tarde quente ao teu vizinho,
Foi mais uma chave para a eternidade, podes entrar, topas?

Los Angeles

21-11-2016


João Bosco da Silva 

Sem comentários:

Enviar um comentário