sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Postal Cansado Que Perdeu Todas As Cores Pelo Caminho

Penso que fiquei naquele dia em Julho, numa tasca vindo do Palácio do Freixo,
Senti que a cada ilustração, um pouco de mim lá ficava, nas manchas dos teus olhos,
Cada vez mais monocromático, debaixo das folhas de videira na esplanada
Ainda sentia o verde, das folhas, dos nossos olhos, do futuro que tão longe
E ali perto as mil cores de Dali e o rio, tão imprevisíveis como o horizonte
Com a distância subtraída, na manhã seguinte ainda vi a cor do pão,
Comprado na mercearia do lado, e o cemitério de Paranhos ainda tinha flores
Coloridas e chamas vermelhas apesar da tristeza que se levava para casa,
Devo ter ficado todo no cheiro do café, à noite já tive que te perseguir rua acima,
Não sei bem onde querias ir por aquela rua escura daquela cidade que não conhecias,
Daí marcares cada passo com lágrimas que te enxuguei nos lençóis,
Fiquei por lá de certeza, mas ainda há madrugadas em que recebo um amanhecer azul,
Como um postal cansado que perdeu todas as cores pelo caminho até mim.

22.01.2016

Turku


João Bosco da Silva