segunda-feira, 4 de abril de 2016

Segredo Esmeralda

Podia falar-te daquelas manhãs à beira da última cerveja da noite,
A apagar cigarros à chuva com uns desconhecidos apaixonados pela insónia,
Podia contar-te da aspereza dos sofás alheios nas nádegas brancas
E daquelas púbis arruivadas que não contavam com o mergulho de barba,
Podia revelar-te ainda a idade em que os anos deixam de passar e passam a desabar,
Mas eu sei o que queres realmente saber, o segredo do meu olhar,
O brilho por trás do dente canino pronto à perdição da carne,
Pois bem, enquanto o Sol se punha, sentava-me na mesa da cozinha
E escrevia poemas ao ritmo das trindades, enquanto olhava o horizonte
Pela janela com a luz a bater-me nos olhos e da porta aberta
Sentia o cheiro da terra a arrefecer, o meu pai rachava lenha
E pelo alvoroço a minha mãe escolhia uma galinha para o jantar
E dos dedos saíam-me versos sobre saudades futuras e amanheceres
Longe dos olhos que à noite se fechariam,
Adormecendo depois do ladrar do último cão vadio.

04.04.2016

Turku


João Bosco da Silva