sexta-feira, 22 de abril de 2016

A Morte De Um Mestre

“oh bela morte num dia seguro em qualquer parte
de gente em volta atenta à espera de nada,
um nó de sangue na garganta
um nó penas duro”

Herberto Helder

Sei que chovia, digam o que disserem, chovia e anoitecia em todo lado,
Isto da terra ser esférica não é para todos os casos, até o coração
Se estende e fica fino como um mapa para lado nenhum
Quando morre um mestre, os amores esses duram sempre enquanto
A carne não arrefece do pecado ou a promessa que se arrasta tiver olhos,
Também chovia naquele fim de tarde escuro debaixo da tua varanda
Enquanto degustavas mais um cigarro e me contavas que a vida
Nem sempre cheirou a uma carpintaria num dia húmido,
Sempre que podias, mostravas-me o segredo do teu cabelo branco
E sentia-me mais cheio, com tempo, coisa que afinal tu não tinhas,
Naquele dia, sei que chovia, sei que ainda chove, cá dentro onde moras.

22.04.2016

Turku


João Bosco da Silva