sexta-feira, 29 de abril de 2016

Caminhada Catártica

ao meu amigo carpinteiro,


Não sei se era o Sol que se punha, se éramos nós que caminhávamos
Para detrás da montanha por aquele caminho rodeado de castanheiros
No fim de uma tarde quente, seria verão, pela recordação em tons cinzentos
Parece que não, se calhar o calor só o da tua voz soprando o fumo de um cigarro
Que acreditava que eterno, afinal não, afinal também tu como o meu avô,
Não me lembro do que falávamos, mas parecias contar-me uma verdade
Sobre a vida e a morte, provavelmente falavas-me da guerra em África,
Ou da falta de sapatos nos dias frios, ou então do calor de um perfume francês,
A cova do meu avô ainda não tinha afundado e cada passo me parecia um abraço,
Eu garoto, ainda com tempo para tudo, goza a vida João, dizia-me,
Quantas vezes não a poupei só para não te deixar mal, mesmo que não
Te tenha contado tudo, a vida não é para se poupar, é comê-la à dentada
Antes que se estrague, depois nem dentes há para o pão duro em que se torna,
Entretanto o Sol pôs-se, a terra arrefeceu, passaram anos desde aquela
Caminhada na aldeia do meu pai, e agora tu além da montanha onde o Sol se esconde.

29.04.2016

Turku

João Bosco da Silva