quarta-feira, 18 de maio de 2016

Inventar Sorrisos

“This is our last embrace
Must I dream and always see your face
Why can´t we overcome this wall
Well, maybe it´s because I didn´t know you at all”

Jeff Buckley

E agora quê, agora que cada passo teu me sabe a derrota,
Por ser mais um ano a caminho de uma década perdida,
Cada sorriso que apenas te imagino, um corte na ferida da distância,
Agora que cada gota de ti me dói tanto quando evapora
E as palavras que quando às vezes me pousam na fome
Me parecem ter sido lidas num livro que não me lembro,
Nunca serei um Hemingway, só na sede ao chumbo,
Só por dentro te agarrei naquele jantar antes das férias do Natal,
Aquela noite sim, foi a despedida e só anos depois encontrei
No livro do Caeiro que me deste, uma dedicatória nas últimas páginas,
Serão essas as nossas páginas, tantos livros perderam o significado
Agora que os teus olhos há tanto tempo, tanto, longe das páginas
Amarelecidas da minha vida, abusadas pela passagem dos anos,
E agora quê, fomos um beijo violento contra todos estes anos
E quilómetros, momentos antes do bater de uma porta,
Um subir de escadas, o bater de outra porta e logo
O primeiro sorriso que te inventei antes de acenderes a luz,
Enquanto esperava lá fora a olhar para os pés indecisos,
Ela ainda volta, mas só o táxi chegou e lá fui inventando sorrisos
Nos teus lábios até ao cemitério de Paranhos e de lá até hoje.

18.05.2016

Turku


João Bosco da Silva