sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ruína

Na caixa de papelão uns pedaços de cortiça esculpidos
Com a inocência dos primeiros artesões que foram crianças
O cheiro do Verão na relva recém cortada da casa dos vizinhos
A renda paga e os sacos de plástico ao lado do balde do lixo
A janela da cozinha engolia o mundo todo a meio da tarde
E aquela vizinha que nunca se esquecerá, seja em que Verão
Se lembre a praia e aquela pausa de felicidade entre joelhos
Esfolados e paixões por peixeiras e cerejas com sargaço no ar
Os pedaços de cortiça vacas antes de vacas esculpidas
Pelo avô no lameiro onde de certeza o centro do universo
De um universo ao menos, mesmo que os poços secos
E os cães mortos e as partilhas feitas e as macieiras queimadas
E a cerejeira seca e os tombos impossíveis agora
Porque já és grande e nunca vens a tempo das cerejas
Só de veres o mundo a arder e as chamas nunca tão altas
Podia ser tão grande se a infância não tivesse sido tão curta
Mesmo assim, trago hábitos de garoto agarrados aos vícios

17.06.2016

Turku


João Bosco da Silva