sábado, 27 de agosto de 2016

Apocalipse

Terá já acabado o mundo, sei que a última folha ainda tarda,
Ninguém me entrou ainda porta adentro com baionetas de certeza
E me perguntou de que lado queria morrer ou pela mão de que deus,
A manhã amadureceu fresca e as cortinas das janelas
Dançam perdidas neste fim do mundo,
Será que onde me sento nasceu uma fronteira nova,
Quantos novos nomes terá a fraga da minha infância
Debaixo do mesmo Sol de sempre, pelo que sei o rio corre
Ainda e se houve sangue já o levou até à foz
Onde tudo se esquece apesar dos nomes cravados nos muros
E das estátuas sem nome, prova que não há nada tão inútil
Quanto a morte, tanto quanto sei, pode já ter acabado o mundo,
Contudo aqui me sento metralhando em paz, entre fragas e giestas,
Na única fronteira que reconheço, entre o esquecimento e a eternidade.

Torre de Dona Chama

04-08-2016


João Bosco da Silva