quinta-feira, 24 de novembro de 2016

No Polo Norte
                       
Lua cor-de-rosa
na manhã
do Polo Norte.

Branco, branco –
não somos necessários
à beleza.

América

Vista do ar
a terra dos livres –
um tabuleiro de xadrez.

Um país de sal –
quantas
lágrimas?[1]

Está posta a mesa –
Pratos verdes
Sobre o deserto.[2]

É enorme o deserto –
lá não cabem
sonhos.[3]

Tanta gente na cidade –
tantos falam
sozinhos.

Cantam, dançam –
ninguém parece
lavar-se.

Com o Pacífico nos pés
o coração
exalta-se.

Areia quente
em Novembro –
Jim Morrison está frio.[4]


Ar-Los Angeles

Novembro 2016




[1] Sobre Salt Lake
[2] Sobre o Mojave
[3] Sobre o Mojave
[4] Em Venice Beach
Hora De Jantar Em Rodeo Drive

No parque de estacionamento de um hotel estão estacionadas as fomes de milhares,
As lojas estão cheias de funcionários aborrecidos, ao espelho, a confirmar o alinhamento
Dos dentes novos, enquanto esperam que uma estrela desça do seu castelo,
Os turistas, os que podem entrar com a segurança de uma boa dieta de verdes,
Parecem ser a minoria, os outros contentam-se em levar nos cartões de memória
A ilusão que não precisavam registar em primeira mão, as putas caras acabam de retocar
Os pêlos da púbis, preparando-se para o ordenado de um pobre mortal e o sabor salgado
Do golden shower de quem caga notas, anoitece, à entrada de uma loja fechada,
Uma família, um pai, uma mãe, uma menina e um menino,
Tiram hambúrgueres de um saco de papel e jantam, no chão daquela rua de ouro.

Los Angeles

18-11-2016

João Bosco da Silva
Bukowski

Bukowski, para ti foi fácil, os metros tresandam a mijo pela manhã,
Dorme-se bem na rua de certeza, a areia é bem confortável, raramente faz frio,
É impossível estar só, aí compreendo o teu sofrimento, o Sol,
O Sol é sempre o das manhãs em Agosto, mesmo em Novembro,
Há sorrisos por todo lado, mesmo que de plástico sujo,
A maioria apaga-se depois da consumação da gorjeta, mesmo que das boas,
Há promessas de violência em cada olhar, há fome pela comida na mão alheia
Com a mesa posta em casa, há tanta sujidade com música nas ruas,
O mar silencioso parece não dar por nada, daqui ninguém teria vontade
De descobrir o velho mundo, depois de um dia, bastava sentares-te à máquina,
Fechado num quarto pequeno e vomitar tudo o que o dia te fez engolir,
Quando finalmente só, mesmo assim, não te invejo a sorte.

Los Angeles
(Santa Monica)

17-11-2016


João Bosco da Silva