quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Inverno

É difícil escrever de portas fechadas, afogado em certezas de pó
E razões de vidro, enquanto lá fora o mundo todo chove
E continua a cair no fim dos tempos, num sopro cansado de deus
Reformado, é fácil cair-se na facilidade da sombra,
No encosto de cabeça na perdição morna que esquece
A melanina nos cabelos, é difícil escrever à deriva no tempo fechado,
Em abismos de esquecimento abertos como pernas de sonho,
Vai-se fazendo por ficar em alguém, que nos traga por cá
Por outros lados, que nos dê a boca e o tropeço do coração,
No inverno não há paciência para hastear bandeiras humedecidas
Com o sal dos dias quentes, correm-se as cortinas em vez de um poema
E lá fora tudo continua a escorrer frio como um sonho viscoso nos olhos.

08-12-2106

Turku


João Bosco da Silva