sexta-feira, 14 de abril de 2017

Andar Mal Das Tripas

Estou a uma semana de Portugal, ando fodido das tripas, só me sai merda,
Há quase duas semanas que não me sai um poema, bom ou mau,
Tenho fumado pouco e a contragosto, apanhei o vício dos dezasseis anos,
Qualquer dia volto a ficar invisível, até os olhos se me apagam,
Um bêbado cumprimenta-me e dilui-se no sofá e a empregada pergunta-lhe
Se está cansado, eu morro consumido por este tédio, farto de ir em primeira
Pela ribanceira abaixo, onde até as cabras se viam sem salto bailarino
E esta dor debaixo das costelas flutuantes, manias celestiais,
Num ping-pong que nunca aprendi a jogar, ora um lado, ora outro,
Ora medo, ora vazio, e tenho andado neste desporto de perdição
Há demasiado tempo, até o sofá em casa se ressente, anda farto de cu,
A cama não aguenta as manhãs azedas, parece que só nas madrugadas solitárias
De luz apagada não incomodo a mobília, às vezes lá ouço o queixume de uma sanita vizinha
A levar com uma mija depois da foda, ou daquelas meias sonâmbulas,
Depois, tudo só paredes outra vez, entretanto, lá fora, nem sei se chove se faz sol,
Só sei que estou a uma semana de uma caganeira valente.

14.04.2017

Turku


João Bosco da Silva

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