sábado, 29 de abril de 2017

Até Ao Fundo Dourado

“Quero apenas o teu corpo quando o entregas”
Nuno Júdice


Quero apenas o teu corpo quando partes, quando a porta se fecha
E o regresso se torna tão possível quanto a morte,
Quero-te como os anos perdidos em que tudo parecia meu,
Mesmo assim caminhei de mãos vazias e bolsos cheios de buracos,
Quero-te como os lábios daqueles sorrisos anónimos que nunca
Se abrirão para mim e passam num número que logo esqueço
Até a uma periferia de uma cidade que também nunca será minha,
Quero as tuas palavras limpas e frias, sem a contaminação do perfume
Ou do sal, ou de um ângulo familiar de sol no teu cabelo,
Nunca teremos Paris, nem Porto, será sempre nosso o desencontro
E as ruas comuns e tempos que não se cruzam, táxis que nos levam,
Sempre nos afastam e até lhe damos gorjeta por tão bela distância,
Quero que todos os anos perdidos sejam quilómetros vazios
Às voltas no mesmo campo de trigo maduro, onde dormes dourada.

29.04.2017

Turku


João Bosco da Silva