segunda-feira, 1 de maio de 2017

Sólo debes bajar de las montañas
si tienes esperanza de volver.
Pablo Javier Pérez López

Até além Marão

Florescem as giestas –
em todo lado
perfume amarelo.

Disculpe –
diz a pátria irmã
antes de se sentar.

Estendem as palmas
para receber o ouro –
as vinhas.

As primaveras no passeio
parecem
cães sarnentos.

Na autoestrada
um cão abandonado –
deus está de férias.

A Sakura no Japão
e as Maias em Portugal –
Primavera.




Casa de Campo

Os grilos acompanham
a dança
de fraga em fraga.

Numa toca entre as fragas
ladra um cãozinho
selvagem.

Põe-se o Sol
preguiçoso
o cuco canta.

Entre um cri
e outro cri
um passo na iluminação.

Cortado pelas linhas
de alta tensão
o vento geme.

Sobre os alicerces
da infância
a casa de campo.

Além as rosas
e eu descanso
junto às batateiras.

Já nem uma flor
na cerejeira –
a beleza é breve.

Cantam os pássaros
e os grilos –
não os que na barriga.

Diz de Bashô meu pai –
“fala de tudo
o que vê”.

As papoilas
não precisam de palavras
nas pétalas.

As metamorfoses
dos figos –
engole-se uma vespa.

Acende-se no horizonte
o ouro vermelho –
batem talheres nos pratos.

Batem as trindades
no coração de pó
de Cesário Verde.




Capital

Aqui torno
a cerveja
no que serei.

Nas minhas costas
o pombo canta
por mais uma ninhada.

Que sabe da vida
o homem
que não a consome?

De tractor no peito
desço o terramoto
até à partida das naus.

Onde te esconderás tu
passado
que não tive.

Desço até ao Comércio –
fico pendurado
num pinheiro.

Toca o sino de São Cristóvão –
levantam-se os pombos
e os turistas.

Braços abertos
religiões de cimento
e a verdade no rio.

Ouvem-se os ecos
da revolução –
partem ainda os filhos.

O rio do passado
está no coração
o do futuro ainda não.

Uns descolam
outros aterram –
satori no aeroporto.

Um sol mais perto
das nuvens
mata a sede.

Lisboa – Torre de Dona Chama – Lisboa
Abril 2017
João Bosco da Silva