sexta-feira, 12 de maio de 2017

Outras Fomes

ao Paulo Azevedo

Servia-nos qualquer apeadeiro de carne, qualquer sombra de pregas,
Sorrisos vendidos a medo, dentes sem cuidado nas fomes dos outros,
Servia-nos qualquer momento escondido, qualquer distração de catecismo
E num cruzar de pernas o mundo todo perdido num embrulho rápido de papel higiénico,
Qualquer vazio era desculpa para mais uma cuspidela no coração,
No próprio também, mas haviam sempre escadas rolantes para nos levar
De volta sem vergonha, havia sempre uma janela de autocarro que a levava para longe,
Para onde se força o esquecimento, mesmo que ainda se lhe saiba a morada,
Servia-nos qualquer porta aberta nesta longa noite que se nos tranca
E nos aguça a vontade, tornando-a cada vez mais fina.

Turku

10.05.2017


João Bosco da Silva