domingo, 11 de junho de 2017

Savon de Marseille e Fósforos Azuis

Este sabão trazido de Nice, savon de Marseille, pur vegetal, de fabricação artesanal,
Que passo sobre a pele deste dia e que cobre o vapor de perfume
E me traz de volta àquelas peles de noites quentes, antes da vontade além cueca,
Aquelas emigrantes bem lavadas que regressavam à companhia dos galinheiros e das couves,
Aquelas peles demasiado brancas para o calor da procissão, deixando um rasto de perfume
Que se seguia atrás da cruz, este sabão laranja de jasmim que me traz aquelas manhãs
Em que as mulheres da aldeia se juntavam para fazer sabão azul em caixas de madeira
Forradas com plástico e na aldeia toda o cheiro da roupa lavada no estendal da eira
Com aquelas cuequinhas e cueconas a acender e apagar sonhos e vontades,
Este sabão para turista que me abre a porta de um banho à hora da sesta em verões
Com menos pêlos e lava tanto o sangue das mãos do que mata como do que salva
E me traz a caixa de fósforos de Paterson e todo o potencial das coisas pequenas
Para abrir portas e acender vidas na nossa, na nossa pele que todos tocam e nunca é a mesma.

Turku

10.06.2017


João Bosco da Silva