sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Canícula E Gato

Enquanto a canícula incendeia os sonhos de quem tenta a sorte numa sesta,
Ouço os ecos de deuses mortais na companhia de um jovem gato
Que parece gostar desinteressadamente da minha companhia,
Apesar do meu corpo quente e cheio de arestas, parece que conhecendo,
Ignora todos os infernos, de olhos fechados, enfrentando cada segundo
Como uma eternidade, visitam-me derrotas como uma cólica renal
E sinto a náusea das que me esperam, que tenha mãos suficientes
Para conseguir perder tudo com a graça do sono do gato, que no fim
Tenha a sorte de ecoar numa banheira, depois da minha voz muda se apagar com os olhos.

Torre de Dona Chama

23.08.2017


João Bosco da Silva
Escrevo-te Da Ilha

Escrevo-te da ilha, cansado de tanto ódio de mão cheia de terra nos olhos,
Escrevo-te do isolamento inseguro, sobre este nevoeiro que se adensa
À volta do coração, queria falar-te dos voos das aves, do rebentamento do azul
Nas rochas dos sonhos, do ar leve e luminoso, mas não consigo, não enquanto
Nos passeios da minha cidade do norte, da minha casa, seca o sangue inocente,
Mais uma vez por uma sem razão, por mais um passo em direção à distância
Entre nós, escrevo-te da ilha com uma ilusão segura e de perto os corvos
Abordam-me com uma fome que me afasta as gaivotas, minha casa alugada vazia,
Meu coração, fechado naquela caixa onde guardo os livros mais raros,
É uma rocha que aos poucos se torna areia, dispersa num mar de distância.

Baleal (Peniche)

19/08/2017


João Bosco da Silva