segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Haikus Coreanos 

Dormem os cavalos 
nas estepes -  
esqueceu-se o medo.1 

Escorre por entre os dedos 
a areia dourada - 
goza a queda. 

Depois do Verão 
regressam 
a palidez e a escuridão. 

Tem que chegar o Outono 
para a folha 
poder viajar. 

A fruta que apodreceu 
à sombra  
cumpriu com a doçura. 

Nar´yan-Mar 
tão desconhecida 
quanto vermelho próximo. 

Escrevo da Sibéria -  
distância e frio 
em vez de palavras. 

Cresce-se - 
prémios tornam-se 
como aniversários. 

Conseguir ser só 
num país de solidão -  
o absoluto. 

Da violência 
nascem impérios -  
só eles terminam. 

Da violência 
nascem impérios - 
só ela persiste. 

A neblina cobre 
as estepes -  
acende-se o horizonte.2 

Sabes-me ao nevoeiro 
de Novembro 
no campo geado. 

O Mestre disse -  
não é a distância 
mas a ausência. 

Olha a Lua -  
os meus olhos 
os teus. 

Podias construir 
um império no coração 
mas não. 

Um último salto 
da ponte -  
todas as vezes. 

Um vizinho 
louco -  
quem não? 

Ter a pele salpicada 
com a ausência 
dos teus lábios. 

Dos antigos 
nem uma memória 
dos seus olhos. 

À estrada do hotel 
despedidas 
e esquecimento imediato. 

Quantos olhos 
as mesmas 
Histórias. 

Montanhas de sonhos 
e tantos outros 
abismos. 

Esse ponto de encontro 
da humanidade -  
a miséria. 

Nada está completamente 
perdido 
se houver dor. 

Na dor 
a certeza 
da possibilidade. 

E quando as cinzas 
arrefecem 
e se continua vivo? 

Tudo oxida 
mesmo 
em segredo. 

Facilmente as mãos 
se esquecem 
de ser vazias. 

Leva-se sempre 
a montanha 
para as distâncias. 

Habitua-te 
ao amargo -  
o Verão é breve. 

Estranha o ar pesado 
aquele que veio 
da montanha. 

Sobre o musgo 
sempre 
em casa. 

Descer do monte 
reparar 
que anoiteceu. 

Encher vazios 
antes 
do vazio. 

Ar-Seul 

Outubro-Novembro 2017 

João Bosco da Silva