quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Tons De Verde Fígado 

Regressava da escola para o almoço, deviam andar pela 4ªclasse, 
Ao pé do jardim do quiosqueperto dos caixotes do lixo, 
Um homem no chão, de galochas, estaria morto, seria aquele 
O meu primeiro morto, gente na esplanada do café da esquina, 
Riam, não podia estar morto, mas no mundo não estava, 
Não naquele momento, continuei e fui para casa, 
A minha mãe disse-me que era um bêbado duma aldeia vizinha, 
Que estava bem, ao voltar para a escola já não estaria lá, 
Mas a beber mais um copo de vinho numa tasca ali perto, 
Tinha razão, quanto ao vinho não sei, soube mais tarde 
Que o meu avô ficaria para sempre deitado por causa do vinho, 
Mas ao contrário do homem das galochas, o meu avô 
Ficou verde antes de cair e tinha um cheiro ruim, mesmo longe 
Dos caixotes do lixo ou das galochas soldadas aos pés, 
Anos mais tarde, vi aquele mesmo homem, tão longe, 
Em Seul, deitado no meio do passeio de manhã, perto do 7eleven 
De Donhwamun-ro, gente comia comida de rua ali perto, 
Caminhavam, enquanto ele abraçado a uma garrafa verde de soju, 
O chão do mundo, o mundo inteiro, ali estava o homem das galochas, 
Afogado em sonhos que só ele sabe que perdeu, 
O meu avô agarrado à barriga inchada pelo fígado que desistiu, 
Um desconhecido num país estranho a conhecer o meu olhar de 4ª classe, 
No chão das cidades onde todas as almas perdidas se encontram. 

20.12.2017 

Turku 

João Bosco da Silva