sábado, 30 de dezembro de 2017

Partida 

Quando parto, todas as caras estranhas me parecem feias, 
Todos os cus um volume amarelo de gordura que alivia o peso de ser 
De cada um e lhes dá vontade de encher este mundo de mais idiotas, 
Quando parto, todas as lágrimas me são estranhas 
E apenas compreendo a tristeza das gotas de chuva nos vidros 
Dos autocarros ou a distância da montanha, pintada na janela, 
Que se cobre de neblina com medo das saudades, 
Quando parto, parece-me sempre que nunca chegarei 
A lado nenhum, fico em vez em equilíbrio entre o adeus 
E o próximo abraço, tão incerto como o próximo passo, 
Quando parto, lembro-me de todos os gatos mortos 
E dos seus últimos olhares cheios de eternidade, 
Quando parto, parece que vou despindo a alma pelas montanhas fora 
E quando chego, não sei mais quem me fui, só onde me deixei. 

Lisboa-Helsínquia (Espanha) 

28-12-2017 

João Bosco da Silva