sexta-feira, 13 de abril de 2018

Objectos Últimos 

Comovem-me os pacotinhos de sumo barato nas mesas-de-cabeceira dos hospitais, 
Os desenhos e rabiscos de garotos de dois ou quatro anos que não se lembrarão do avô, 
O sumo dias e dias intocado, a fome dos últimos momentos pouca, a sede enganada gota a gota, 
Comovem-me os relógios de pulso, últimos companheiros não fosse a falha nas pilhas 
Ou de quem lhe dá corda, enfiados no fundo das gavetas contra vontade, 
Porque estavam a incomodar uma veia, escondendo assim a hora da partida, 
Os anos, décadas antes, presidentes já falecidos, à noite da boca descai-se um mãe, 
Tudo para enganar a última visita, quase sempre rodeados de outras solidões, 
Gemidos alheios que quase um eco, comovem-me as caixas de bombons 
Que ficam por ali, abertas, cheias, ao lado da placa que já não consegue nem um sorriso, 
Comovem-me os objectos pequenos, os últimos da vida, porque no fim 
Tudo sabe a tão pouco para nada ,a vida acaba e o pacotinho de sumo intocado. 

30.03.2018 

Turku 

João Bosco da Silva 

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