domingo, 17 de junho de 2018

Aniversários 

Quando fiz treze ou catorze anos, recebi uma t-shirt azul de marca, 
A primeira a sério, a marca quase morreu, hoje mantém o nome, 
Os donos devem ser outros, cheirava a alegria nova, 
Os meus amigos chutavam uma bola no caminho, 
Enquanto esperavam que a minha febre baixasse, 
Ouvia a felicidade do mundo pela janela, o presente à espera, 
A morte sempre tão próxima, não sei se a tenho enganado 
Todos estes anos, se ela me tem enganado a mim, 
Apesar do sabor metálico dos canos entre os dentes 
Até a sombra passar antes de um último movimento de dedo, 
Da vontade do salto de cabeça da varanda da irmã, 
Das garrafas ondulantes Inverno fora e dos cigarros 
Como a maioria dos amigos, durei mais que a t-shirt, 
De certeza que ainda me serviria, só engordei uns dois anos de corpo, 
A alma, essa, parece um farrapo maltratado por tempestades de verão, 
Contudo pesa toneladas velhas, como aquelas carrinhas 
Que com o motor podre, iam de aldeia em aldeia, comprar ferro-velho, 
Aos catorze anos já morria, desisti de muito amor por sentir 
Que a minha eternidade não seria suficiente, bebo o Sol como se fosse 
O último e isso me matasse, se ao menos tivesse aprendido 
Outra forma de enganar a morte além desta. 

Turku 

12.06.2018 

João Bosco da Silva 

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