terça-feira, 18 de setembro de 2018

Regurgitações Revisitadas 

O verão arrefeceu, a máquina parou, os marmelos, 
Já devem estar maduros, não tardam os vidros embaciados, 
Na cozinha, com a lareira a prometer incêndios caseiros, 
Como no verão do rei leão e os mexilhões do rio, 
Levados quase à extinção, porque a família toda, 
Agora o rio uma amostra de quando se vivia de verdade, 
Como revisitar um álbum de fotografias molhado, 
Umas quantas horas para fingir que ainda se é feliz, 
Uma mão cheia de mexilhões, quanto muito, 
Uma loirinha finlandesa a tomar conta de um vazio 
Demasiado grande para quem quer que seja, 
O verão frio, as andorinhas umas putas que se põem 
A milhas logo que as manhãs não lhe nascem douradas, 
A máquina aqui, a máquina tão longe, espera, 
Não esperes beber o copo que lançaste na terra, 
Nem reacendas o fósforo numa noite apagada, 
Nos primos mais jovens, já a última inocência, 
Viver é uma extinção imensa e singular, 
Na varanda a estas horas só cresce o pó frio das folhas mortas, 
Que esperas de janela aberta quando o Outono regressa, 
Além do cinzento que te pinta os ossos da cor da alma, 
E os meus dentes não trincarão a marmelada deste ano, 
Nem sei se as uvas estão boas, os pés lembram-se, 
O ano acaba logo no fim de Agosto, quando não há mosto 
No ar de Setembro, a aguardente mora ao lado do sono da infância, 
Não há verso que sirva, quando as fotos se descolam do álbum. 

18.09.2018 

Turku 

João Bosco da Silva

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