terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Poema Sobre Cuecas

Quase me comovo, quando dobro as cuecas dela, tão pequeninas,
Breves pedaços de inocência, quantos homens lhas terão despido
E ela a levantar as nádegas, oferecendo-lhes o caminho para o mergulho,
Quase sem nomes, alguns ao menos a ideia de um país,
Quantas vezes terão humedecido em segredo, na rua,
Cruzando-se com aquela boca fácil, ou aquelas mãos brutas,
Aquele batom, aquela barba, olhares presos numa possibilidade
Que acaba por secar, uma preparacão inútil para receber ilusões,
Quem as terá elogiado antes de jazerem no chão de um quarto estranho,
Antes do alívio ou nem isso, apenas um já está, para nada, como tudo,
Umas cuecas limpas agora, encartadas, prontas para encerrar memórias futuras,
Quase me comovo com o gesto, ridículo, como escrever
Um poema assim, como quem limpa o passado da gaita.

08.12.2018

Turku

João Bosco da Silva

1 comentário:

  1. Quantas vezes terão humedecido, em segredo, na rua ....! DE MESTRE! Um abraço ainda mais apertado João Bosco!

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