sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O Perigo Das Varandas Nos Fins De Tarde De Verão 

Já devias conhecer bem o perigo das varandas 
Nos fins de tarde de Verão, aquelas saias arregaçadas 
No teu colo, com o castelo duríssimo de pedra e séculos, 
Aqueles luares de nádegas contra as tuas virilhas, 
Enquanto em baixo alguém fuma baixinho um cigarro 
Concentrado no roçar de patas das cigarras, 
Mesmo assim deixas-te cair como as folhas no Outono, 
Sempre, atiras-te verde, quando já maduro, 
E vens-te sempre com a fome das pupilas, 
Mesmo quando só te querem vender a íris, 
Até a maresia enquanto as cuecas do urso secavam 
Não te manteve longe da varanda e da ruiva com um pé no altar, 
Foste todo areia abaixo, até não se encontrar mais humidade, 
Iluminações depois dos orgasmos em que ficaste a perder, 
Continuas a cair nos crepúsculos como nas auroras, 
Bêbado de meia dúzia de metros e uns lábios rosados 
Num vórtice azul que te aperte o prepúcio até à alma, 
Já devias conhecer bem o perigo das varandas 
Nos fins de tarde de Verão, nunca te poupes àquela brisa quente. 

Turku 

19.01.2018 

João Bosco da Silva 
Post-It Manchado De Vinho 

Lembra-te de hoje, sempre, ficas pela metade de ti, 
Mesmo quando te atiras todo, não te esqueças 
Que o que te dizem, nem sempre é um sapo tão grande 
Que não seja melhor engolir logo, antes de acender o cigarro, 
Não durmas cedo, acaba a garrafa e agarra o diabo 
Pelos teus próprios cornos, não te arrependas depois 
Do mergulho no nada, nada tão duro, deixa-te cair 
Como quem sabe que contra a gravidade só há a certeza 
Da derrota, também há beleza nisso, morre, 
Mas morre com barulho, parte o copo antes de saíres, 
Não deixes nada nas mãos a não ser espaço para novas derrotas. 

Turku 

07.01.2018 

João Bosco da Silva