sábado, 27 de janeiro de 2018

Anoitecer 

Os cães morrem, revolve-se a terra no quintal e tudo fica na mesma, 
Os amigos esquecem-te, uns mais rápido que outros, a tua sombra cresce, 
O dia acaba, ninguém para te render e tudo fica na mesma, 
Morrem e em vez de acabar levam-te aos poucos o pouco que te fizeram, 
Contudo fica tudo na mesma, lentamente as garrafas se tornam em ti, 
Alguém te lembra daquilo que já não és, mesmo que te continues a chamar tu 
E mal te conheceu, tudo fica na mesma, cada vez menos pratos na mesa, 
Cada vez mais cacos nos sacos de lixo dos dias idos, tão lento a conta-gotas 
O tempo que te esvazia, os gatos todos jovens desconhecidos 
Que te reconhecem mas nunca te conhecerão e tudo fica na mesma, 
Como o silêncio depois daquela música como a chuva antes de anoitecer. 

Turku 

27.01.2018 

João Bosco da Silva