sexta-feira, 28 de abril de 2017

Casa de Campo

para o Carlos Fernandes,

Amigo, resta-nos a memória para resgatar a infância,
Aqueles pinheiros cortados ainda são uma cabana completa
Quando fechamos os olhos num dia quente de primavera,
Contudo relembramos sempre a sombra mesquinha
Que nos tornou a imaginação nesta imitação caquética
Apoiada nos anos do cabelo farto e consistente,
Resta-nos sujar as unhas demasiado curtas para encontrar
Um pouco daquela alma que realmente foi nossa
Antes de nos vendermos por imitações de sonhos,
Só porque mais à mão de a abrir e deixar tudo por uma amostra
De infância, um primeiro beijo, todas as primeiras fodas
Que se adiaram numa desilusão apressada de demolição cansada
Em quem se ia tropeçando nas pernas abertas,
Resta-nos agora a casa de campo, a miniatura que as sete moedas
Furadas nos permitem, por tão pouco vendemos a inocência,
Mas ainda conseguimos vê-la no assobiar do vento nas linhas de alta tensão
Por cima de mais um pouco de infância que se cumpre.

Turku

28.04.2017


João Bosco da Silva

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