Speramus Meliora; Resurget Cineribus
Não sei o que me trouxe a Detroit, provavelmente o facto de
estar familiarizado
No sangue com impérios afundados, sejam barcos, ruínas,
abandono, tradições
Baseadas na obscuridade, nos becos esquecidos por tudo menos
pelo oportunismo
Parasitário, o sangue escravizado pela terra ou pelas
máquinas, trabalhar para viver
Para trabalhar, não sei se as casas abandonadas, se os
abandonados nas casas, à espera
Do golpe final, um corte, e a ténue película entre aqui e a
bancarrota letal, a miséria
É a desculpa para as oscilações do humor frio das bolsas dos
bolsos abstractos dos deuses
A quem ninguém reza e toda a gente deve, paga-se com a vida
e está-se finalmente
Descansado, que o coveiro não nos enterre muito fundo, temos
que incomodar
Ao menos os narizes, já que este mundo é de surdos, mudos e
idiotas feitos pinguins
No ar frio com que engolem o peixe miúdo, nunca serás
ninguém enquanto não tiveres
Praga ou Budapeste, dizem-me entre dentes numa fotografia, pensei
pedir equivalência,
Afinal tive boa nota na sueca e noutras cartadas internacionais,
os certificados entretanto
Foram lavados com sabão e horas de suor e cerveja, outros
desfizeram-se quando acordaram
De manhã e o lençol já frio, um manto de neve sobre Detroit,
pisado por um rapper
De outros tempos, no tempo em que se podia ser ainda tudo,
sabendo o mundo,
Desde logo, que nunca permitiria grandes voos, uns cruzeiros
para um futuro naufrago.
31.08.2013
João Bosco da Silva
Coimbra