Entre Saliva E Esperma
Num momento de dentes, lábios sôfregos pelo ar que acabamos de inspirar, demasiada
Pele para só duas mãos, o teu cabelo num punho fechado que expõe o teu pescoço
Branco, a camisa desaparece algures à volta do que deixou de existir, a fome de ter dentro,
A língua a tornar-se na serpente da sabedoria que acende o fogo do conhecimento
Verdadeiro, só os teus suspiros se conseguem ouvir entre a corrida dos nossos corações
Por sossego, uma amostra de eternidade de olhos abertos, os meus dedos passam
Na tua aspereza convidativa e perdem-se na doçura do teu calor negro,
Preparando a cópula, a impossibilidade de uma comunhão tão necessária como a vida
E enquanto a minha alma toda desliza por ti adentro, alguém passa, com um saco cheio
Dos seus vazios, as crianças brincam em sonhos, e alguém numa cama de hospital
Diz que só quer que a deixem ir embora, para a morte, que a vida já abusou o bastante dela,
Empurram-se êmbolos no bairro degradado e meninos bonitos snifam uma fome que
Imaginam ter, os nossos neurotransmissores são a única luz verdadeira nesta cidade
De cães que farejam sacos do lixo, espalhados pela cidade, porque uma greve,
Menos a fome, essa dorme em caixotes de papelão debaixo do viaduto, na companhia
Das prostitutas que entram em carros topo de gama, porque a vida alta só encontra
Satisfação nos bairros baixos e escuros de uma alma abusada por excessos, e dizes-me
Para te foder, na casa ao lado alguém deixa cair um copo que se parte no chão,
Na casa ao lado onde não vive ninguém, só gatos, recordações, desconhecidos
Em fotografias e o som de uma chaleira de manhã e à noite, alguém grita na rua
Enquanto outro alguém se afasta correndo, as sirenes anunciam pequenos apocalipses
E a vida passa indiferente nos passeios ao lado do cemitério de Paranhos,
Por trás dizes-me, assim, pergunto-te, não pares, não pares e o álcool a não parar,
Só os corações, e uma multidão de gente de branco com agulhas, afastem-se,
Nada a fazer, os sacos de vazios pousam-se ao chegar a casa e o vazio ali,
Onde sempre esteve, a seringa vazia e uma amostra de eternidade quente,
As palavras saltam de narina em narina, o carro topo de gama exige sem preservativo
E a prostituta já não se interessa, mais uma menos uma, os cães que são apanhados
São abatidos, os outros abatem a fome com lixo ao lado de outros que continuam
Debaixo do viaduto, a chaleira, a chaleira e tu abres a boca e engoles-me o mundo inteiro,
A dor destilada na fricção dos nossos corpos, o fim do mundo, e à nossa volta, tudo existe.
11.02.2012
Turku
João Bosco da Silva
Num momento de dentes, lábios sôfregos pelo ar que acabamos de inspirar, demasiada
Pele para só duas mãos, o teu cabelo num punho fechado que expõe o teu pescoço
Branco, a camisa desaparece algures à volta do que deixou de existir, a fome de ter dentro,
A língua a tornar-se na serpente da sabedoria que acende o fogo do conhecimento
Verdadeiro, só os teus suspiros se conseguem ouvir entre a corrida dos nossos corações
Por sossego, uma amostra de eternidade de olhos abertos, os meus dedos passam
Na tua aspereza convidativa e perdem-se na doçura do teu calor negro,
Preparando a cópula, a impossibilidade de uma comunhão tão necessária como a vida
E enquanto a minha alma toda desliza por ti adentro, alguém passa, com um saco cheio
Dos seus vazios, as crianças brincam em sonhos, e alguém numa cama de hospital
Diz que só quer que a deixem ir embora, para a morte, que a vida já abusou o bastante dela,
Empurram-se êmbolos no bairro degradado e meninos bonitos snifam uma fome que
Imaginam ter, os nossos neurotransmissores são a única luz verdadeira nesta cidade
De cães que farejam sacos do lixo, espalhados pela cidade, porque uma greve,
Menos a fome, essa dorme em caixotes de papelão debaixo do viaduto, na companhia
Das prostitutas que entram em carros topo de gama, porque a vida alta só encontra
Satisfação nos bairros baixos e escuros de uma alma abusada por excessos, e dizes-me
Para te foder, na casa ao lado alguém deixa cair um copo que se parte no chão,
Na casa ao lado onde não vive ninguém, só gatos, recordações, desconhecidos
Em fotografias e o som de uma chaleira de manhã e à noite, alguém grita na rua
Enquanto outro alguém se afasta correndo, as sirenes anunciam pequenos apocalipses
E a vida passa indiferente nos passeios ao lado do cemitério de Paranhos,
Por trás dizes-me, assim, pergunto-te, não pares, não pares e o álcool a não parar,
Só os corações, e uma multidão de gente de branco com agulhas, afastem-se,
Nada a fazer, os sacos de vazios pousam-se ao chegar a casa e o vazio ali,
Onde sempre esteve, a seringa vazia e uma amostra de eternidade quente,
As palavras saltam de narina em narina, o carro topo de gama exige sem preservativo
E a prostituta já não se interessa, mais uma menos uma, os cães que são apanhados
São abatidos, os outros abatem a fome com lixo ao lado de outros que continuam
Debaixo do viaduto, a chaleira, a chaleira e tu abres a boca e engoles-me o mundo inteiro,
A dor destilada na fricção dos nossos corpos, o fim do mundo, e à nossa volta, tudo existe.
11.02.2012
Turku
João Bosco da Silva