quinta-feira, 11 de março de 2010


Chuva

Chove, mas não cai nada que se sinta.
Chove, mas nada húmido, nada se molha.
Chove, mas não chove nada,
É algo dentro a partir como se uma nuvem,
Só por que o peso demasiado,
Só porque tem que chover.
Silêncio. Nem gota se ouve contra a chão seco,
Contra uma folha de verde sedento,
Contra um insecto e o seu caminho interrompido.
Só o silêncio de algo a quebrar por dentro
E uma gota a querer ser,
A escorrer, quem sabe se salgada,
Quem sabe se sumo do que se partiu, por dentro,
A querer cair, mas a escorrer,
A rasgar um sorriso numa linha brilhante dos olhos aos lábios,
Que lambida e não chove,
Mesmo que por dentro.
Nada cai, ninguém vê, ninguém sente,
Só por dentro quem sente a chuva que fica
E pesa e faz com que o sal se canse de estar,
Faz com que o sal se case e se derreta em sorrisos tristes,
Diluído na desilusão, só porque não cai,
Só porque não se sente a ser algo húmido,
Que quase não molha,
Que chove, mas não chove,
Só porque demasiado peso a quebrar,
Sem olhos para dizer que também chove para mim,
Que eu te vejo essa chuva,
Que eu te sinto a chuva.

11.03.2010

Savonlinna

João Bosco da Silva