“Twilight Zone” Numa Casa De Putas
Como quando se passa mil vezes ao lado de uma casa e se entra pela primeira vez,
Entrar no café onde se conquistaram as primeiras emigrantes francesas tardiamente,
Com o fascínio das mamas nas mãos e cheias da saliva apressada, incrédula, o piercing
A enrolar a língua, a amiga no aniversário a chupar depois da boca doce com o seu bolo
De aniversário, entrar no café onde se cresceu para os prazeres da vida, mesmo que
Alguns ridículos e ser a primeira vez, uma entrada num buraco de verme e estar no Brasil,
Luzes vermelhas quase inúteis com o vizinho com quem se construiu casas de árvores nos
Pinheirais que hoje queimados, pagar o triplo por uma cerveja que já trazemos dentro
E até os sofás parecem diferentes, mesmo conhecendo a leveza do meu cu de outros tempos.
Na loja mais abaixo, onde eu e o meu melhor amigo de infância comprávamos brinquedos
Esquecidos de outros tempos a preço antigo e mais sobrava para as batatas fritas
E as latas de refrigerante para levar até às fragas onde impérios dentro de nós
E agora uma foca à porta a trabalhar à hora por rata, loiras só por cima e em baixo
Nada porque é mais higiénico, enquanto se aproximam como hienas com o cheiro
Do último trolha disfarçado com perfume barato, chamam-me Elvis, convencidas
Da sua originalidade, mas minhas filhas, a diferença é que eu nunca recebi dinheiro
Pelas fodas que dei, e o meu fascínio é outro, não por mel para as moscas,
Só me fascina a viagem que me proporcionais na distância entre o passeio e o interior,
Há uns poucos anos, eu a caminhar do outro lado, na canícula, sem medo, movido
Pela esperança de uma gazela à janela e só a música vinda da sua janela me fazia
Sair à noite, beber três chás gelados só para a ver a rir com outros,
Ela, que me convidou uma tarde, os meus pais não vão estar em casa
E não vou ir às piscinas, eu sentado do outro lado do sofá com ela à espera
Sentada quase deitada (“how to read a person like a book” – demasiado tarde)
Até que se cansou e me levou pela mão ao quarto para ouvir música (Enrique Iglesias)
E eu de pé até não aguentar o sem saber o que fazer e inventar uma razão para me arrepender
Pelo resto da tarde até ao resto da minha vida… é verdade, existe algo reprimido,
Mas agora a coisa vai, houvesse mais vontade que cinquenta euros não faltam
E ouvi dizer que tem que se lavar antes, quase ridículo quando provavelmente
Se vai saborear algum trolha de há uns minutos atrás, numa terra de mil e poucos
Onde se luta para se conseguir enviar cartas, onde se suicidam lentamente
Nas noites de inverno, onde a geada tem pena das cervejas, do vinho e da aguardente
Dos calos nas mãos e do cabelo cheio de cimento, tinta e mulheres cansadas à lareira.
Eu e o meu vizinho rimo-nos enquanto esperamos paz para estarmos com
As nossas cervejas, sempre fiéis, uma atrás da outra, perceberão que não vale a pena,
Porque viemos ver um espectáculo bizarro, uma procissão de santos caídos
De olhar no chão assim que descem com a sua vergonha, sabe-se lá a razão.
Ando seco minhas putas, ando seco, as nórdicas falam menos e pagam com
O silêncio que é de ouro e nunca me atraiu a ideia de ter uma mulher a foder-me
Como um homem fode, sem ser no coração, por isso, três cervejas e fechar o bairro.
14.09.2011
Turku
João Bosco da Silva