sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Vestido Vermelho 

Nunca serás aquela loira de vestido vermelho a desaparecer na distância 
Como uma brisa fresca, apesar dos quase quarenta graus atenienses, 
Nunca terás todos os nomes possíveis, nem serás a manic pixie dream girl 
Que o tempo desfez, ama-se mais a ilusão que a verdade, 
Nunca te vi de vestido sem estares toda cinzenta, uns minutos e depois, 
Não tu,  um sol impossível nos metálicos invernos nórdicos, 
Nunca serás o que te sonhei, mas a culpa dos sonhos é de quem os sonha, 
Não de quem com um olhar, planta ilusões, que crescem em vazio, 
Maior ainda do que antes da semente, nunca serás aquela loira de vestido vermelho, 
Porque os filmes acabam sempre antes do roer das unhas se entranhar nos nervos, 
Antes do nome carregar toda a frustração e desprezo que os pós-créditos trazem, 
Se se esperar tempo suficiente, nunca serás aquela loira de vestido vermelho, 
Mesmo que tenhas sido aquela loira de vestido vermelho, mesmo que isto 
Quase seja um poema de amor, que nunca será, porque tudo uma vela curta, 
Numa noite de incêndio. 

Atenas 

09.07.2019 

João Bosco da Silva