Primeira
À beira dos segredos correntes do velho rio,
Coaxavam a rãs, viscosas de luar e cio,
A ponte intemporal, vestígio de brumosas
Recordações de impérios abatidos pela inevitabilidade,
Tudo convergente no teu abrir quente
Da vontade à minha promessa vazia de serotonina,
Sempre me amargou um pouco a chegada
Da primavera, ter que acordar com a nova luz,
Por isso me debrucei sobre o teu metálico gosto,
Despertou em mim o erro da bula
Numa surpresa de espuma, puxada de dentro
De ti, sobre ti, até ao luar dos teus olhos,
A prova maior de estarmos vivos,
Ignorando a lua levada pelo rio,
O perfume dos amieiros arrefecidos pela noite,
O silencioso trabalho da semente das papoilas
Nos campos adjacentes e o pulsar irreflectido
Do nosso sangue quase adolescente
Nas têmporas acariciadas pelo orvalho do nosso esforço.
18/03/2024
Turku
João Bosco da Silva
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