segunda-feira, 18 de março de 2024

 

Primeira

 

À beira dos segredos correntes do velho rio,

Coaxavam a rãs, viscosas de luar e cio,

A ponte intemporal, vestígio de brumosas

Recordações de impérios abatidos pela inevitabilidade,

Tudo convergente no teu abrir quente

Da vontade à minha promessa vazia de serotonina,

Sempre me amargou um pouco a chegada

Da primavera, ter que acordar com a nova luz,

Por isso me debrucei sobre o teu metálico gosto,

Despertou em mim o erro da bula

Numa surpresa de espuma, puxada de dentro

De ti, sobre ti, até ao luar dos teus olhos,

A prova maior de estarmos vivos,

Ignorando a lua levada pelo rio,

O perfume dos amieiros arrefecidos pela noite,

O silencioso trabalho da semente das papoilas

Nos campos adjacentes e o pulsar irreflectido

Do nosso sangue quase adolescente

Nas têmporas acariciadas pelo orvalho do nosso esforço.

 

18/03/2024

 

Turku

 

João Bosco da Silva

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