No Fim Será
O Sujeito
Aperto-te
entre os dedos com todo o meu ridículo, um movimento fétido de quem tenta
E não te
sinto, sou-te, como tu és o splash antes dos salpicos nas nádegas, a saliva
Que fica nos
lábios a latejar depois do beijo, a dor que sem estímulo nos receptores
Anda às
voltas nas circunvoluções, já não é, já não está, vais morrer, vais morrer,
És mas não
vives na tinta que serão estas palavras, o vestígio de suor numa página
Abandonada,
és o que a luz me faz desejar, sempre menos do que as mãos esperavam
Daquilo que
os olhos lhe contaram para dentro do comum, mas deus, sou eu.
Crio num
instante uma máquina do tempo, que se diz impossível por paradoxos,
Mas sou um
paradoxo, basta-me cheirar a lavanda e imediatamente a solidão
E o
desespero de um quarto pequeno numa cidade em ruínas, cheio de sonhos
Que hoje guardo
no esquecimento, é melhor, mais vale, a criação é dos que
Se dedicam à
demolição e sem querer, deixam fragmentos que dão forma
Ao caos, no
fundo tudo fruto da destruição de outra coisa qualquer, mas deus,
Sou eu, mais
que uma ideia universal, sou um universo nas minhas ideias individuais,
Nas mãos não
tenho nada, mas tenho em mim todo o peso de um mundo
E como se
isto interessasse, fecho os olhos, inspiro, o cheiro da erva acabada de cortar,
E sinto-me a
ser ruminado nos dentes pacientes das vacas num lameiro
Onde fui
pedra, um cão vadio à sombra de um abismo, onde fui a faca que esculpia
Uma fatia de
pão, barrava com marmelada, tornava a cortiça nas próprias vacas,
Deus sou eu
e faço muito mais que durar, nasci sem saber nada e tudo o pouco
Em que me
tornei, não precisou de infinitos nem de eternidades, só da oportunidade
De abrir os
olhos e ver-se no universo do qual faz parte e é, no fim será o sujeito.
06.07.2012
Turku
João Bosco
da Silva