sábado, 2 de outubro de 2021



Castelos e Crepúsculos

 

Daquela varanda víamos o castelo pintado pelo crepúsculo,

Uma amostra de eternidade, uma permanência ilusória,

Éramos jovens e estrangeiros, tu sentavas-te no meu colo

E ao teus lábios pareciam ter o sabor do sol que se despede

Do granito em Junho, sob a tua saia agarrava a certeza

Das tuas nádegas, enquanto me procuravas a fome

E me fazias deslizar para dentro de ti com a  destreza da desgraça,

E ficavas assim, sorvendo vinho, subindo e descendo,

Ao ritmo do Sol, fazendo tempo até ao jantar,

Numa pizzaria qualquer, que me pagarias também,

Depois do táxi da estação ferroviária até àquelas águas-furtadas,

Éramos jovens e eternos, hoje ambos vivemos apenas

No que um perfume familiar nos traz de volta,

Na luz do crepúsculo que ilumina um castelo em ruínas.

 

Turku

 

02.10.2021

 

João Bosco da Silva

 


O Único Último Regresso

 

Há dez anos, regressar ainda era possível, a vida toda por viver,

Quando não sabíamos que estava quase tudo feito nos olhos do destino,

As mulheres dos verões passados, pareciam distantes como as folhas

Vermelhas em Outubro, o inverno uma certeza desconfortável,

Como a evidência dos primeiros cabelos brancos no espelho,

O horizonte era um vasto oceano, o passado uma confortável

Serra, familiar como uma lareira ou a roupa geada no estendal,

Há dez anos éramos tanto, éramos tudo, agora ou somos nada ou vazio.

 

Turku

 

02.10.2021

 

João Bosco da Silva