XXVII
Hoje, na taberna da aldeia,
Voltei a ouvir a mesma conversa
De gente com desejos, que continua
A não fazer qualquer sentido.
Falam de querer isto e aquilo,
Que não têm, nem conhecem,
Mas desejam.
Falam de estarem fartos disto e daquilo
Que têm, com eles ou em casa,
Que conhecem, que vive com eles
E já faz parte do que são
(Devem estar fartos deles próprios).
Desejam o vazio, o inexistente,
O chão antes do passo dado
(Que poderá nunca lá estar)
E queixam-se do que têm: da vida.
O mal deles é ter mãos
Demasiado cheias e pouco sensíveis.
Faz-lhes falta uma miopia geral nos sentidos
Ou alguém que lhes dê um empurrão
E lhe deite tudo das mãos no chão
(Assim poderão ver o que têm, tinham e perderam).
16.03.2011
Turku
(António Montes)
João Bosco da Silva