quinta-feira, 21 de maio de 2020

Finlândria 

Foi num  verão de outra vida, a jovem finlandesa sentada ao lado do meu avô, 
Ele a perguntar-lhe de onde era pela quarta vez, Finlândria,  
As mãos nodosas apertavam aquelas pernas brancas, tem boas canetas,  
Hoje ambos apenas na memória, aquele gesto quase inocente, 
O sorriso tímido de quem não percebe a língua que falam, 
Tudo tinha já um fim marcado, continuo na Finlândia, vivo uma terceira vida, 
Cada vez mais estranho às recordações, visitam-me inesperadas 
Como sonhos de um fantasma, depois de dez anos, tudo parece 
Uma confabulação, aquelas lágrimas nunca foram minhas, 
Até este nome comum parece ter perdido o significado, 
Aos poucos só restará o olhar e o vazio. 

Turku 

21.05.2020 

João Bosco da Silva